sábado, 18 de julho de 2009

Vai pra página

Os últimos dias têm sido deveras agitados. Ideias e mais ideias. Várias pautas na cabeça e mais algumas para fazer (calma chefa, todas serão feitas!). Boas surpresas e uma decepção. Tenho andado meio confuso, caminhos surgem e ainda não sei qual escolher. Nada como o tempo para resolver.
Tenho encarado o jornalismo como uma grande diversão. Algo extremamente prazeroso de se fazer. É tão bom chegar da rua e ter 15 minutos para escrever um texto de abertura de página de 3,5 mil caracteres. Acho isso sensacional. A pressão. O desafio. A cobrança. Ver o pessoal baixando as páginas. A correria. Estou vivendo um caso de amor com o jornalismo diário. Não é o jornalismo ideal, aquilo que entendemos como o perfeito da profissão. Não. Não é. Mas é fascinante, mesmo assim. Perde-se a capacidade de analisar profundamente um assunto, pesquisar mais, buscar mais fontes. De fato, perde-se. Não há como se fazer no jornalismo diário o que se faz na Rolling Stone, na Piauí ou no Le Monde. Pelo menos não quando escrevemos sobre um assunto do dia. No caso das matérias de gaveta, são outros quinhentos. Isso é ruim? Por um lado sim, por outro não. É ruim porque, em boa parte das vezes perde-se a oportunidade de se explorar mais um tema, buscar outras nuances do assunto, trabalhar e burilar o texto. Por outro é muito bom, pois o texto sai mais vivo, pulsante, não há muito tempo para pensar sobre o que se está dizendo, escreve-se o que se viu e ouviu, não há muito tempo para ser político. Diz-se o que se quer dizer. O que se quer dizer é publicado. No outro dia que se aguente as ligações de leitores e de interessados reclamando (ou ameaçando) ou, algumas vezes, elogiando pela coragem de ter dito aquilo. Vejam bem, estou falando da minha experiência no veículo em que trabalho. Não posso falar sobre como funciona nos outros.
Conhecer pessoas. Fazer amigos. Outro grande bem que a profissão tem me feito. Assim como com os amigos que passam por aqui, tenho os colegas de editoria do jornal como grandes irmãos. Divirto-me muito lá e tento fazer com que eles se distraiam também. Sabidamente tenho uma veia cômica. Acompanhando repórteres dos outros veículos durante as coberturas e vendo o que é produzido depois, cheguei à conclusão de que isso é uma das coisas que mais falta para o jornalismo e para os colegas jornalistas: enxergar o trabalho como uma grande diversão e não como uma obrigação advinda de um contrato de trabalho. O texto reproduz em muito o estado de espírito de quem o escreve. Chega a ser animalesca a atitude de alguns colegas jornalistas durante as coberturas. Empurram-se, discutem uns com os outros, brigam. Estão sempre em um estado de tensão tremendo. Falam, falam, falam e falam. Não param de perguntar. Não ouvem as respostas, não as analisam. Pra que, afinal, se o gravador está guardando tudo? Depois é só degravar.
Não uso gravador nas pautas diárias. Duas são as razões: 1) não teria tempo para ouvir toda a entrevista e depois fazer a transcrição; 2) sem ele, presto mais atenção no que a fonte está falando, afinal de contas, tenho de anotar certinho o que ela diz e, assim, ouvindo atentamente, consigo perceber suas contradições, pensar sobre as respostas, formular perguntas que possam tirar mais da fonte ou desconcertá-la. Constantemente vejo colegas sem uma caneta cobrindo uma pauta. O gravador está sempre lá.
Enfim, como disse, estou meio confuso (no momento estou completamente sóbrio, amigos). Fazia tempo que não escrevia nada aqui. O assunto veio à cabeça e resolvi escrever. O texto saiu meio que escarrado. Talvez amanhã eu receba alguma ligação descendo o pau em mim. Fazer o que? O dead line bateu, está na hora de entregar o escrito. Não há tempo para pensar muito mais. Vai pra página. Tchau.