domingo, 20 de janeiro de 2013

Sobre ideias e a falta delas


"Se quiser ter uma boa ideia, tenha uma porção de ideias"
Thomas Edison

Não tenho tido ideias. Não sei o que aconteceu comigo, mas, de um tempo pra cá, não tenho tido ideias. A última ideia que eu tive foi essa, de escrever sobre o fato de que não tenho tido ideias. Isso nem é uma ideia. Não sei ao certo o que é, mas não é uma ideia. E quando digo que não tenho tido ideias, nem me refiro a boas ideias. Uma má ideia, mesmo sendo má, ainda é uma ideia. Durante um tempo, no ano passado, tive uma série de ideias, só que pela metade. Todas em sequência. Uma atrás da outra. Coloquei-as no papel. Tinha a esperança de que, no decorrer do processo, aqueles embriões se desenvolvessem e chegassem a um ponto em que assumissem vida própria e eu fosse somente um meio para elas chegarem a um fim. Não aconteceu. Agora, tenho uns quantos textos escritos pela metade. Que triste isso. Sério, é muito triste. Vocês não imaginam o quanto é triste.

E é triste porque a ideia, em boa parte das vezes, independe de ti. A ideia surge. Você olha uma coisa qualquer e tem uma ideia. Você escuta algo e pronto, ali está ela. Daí, quando chega a sua vez de brilhar, de pegar essa ideia pelo braço e, a partir dela, criar... você trava.

Teve uma época em que eu deixava um bloquinho de papel na cabeceira da cama. Ao lado dele, um lápis. Eu fiz isso porque eu tinha muitas ideias. De verdade, muitas mesmo. Várias no mesmo dia. E à noite também. Estava dormindo e, de repente... pluft! acordava com uma ideia. Eu, então, anotava no bloquinho, para não esquecer, e, no outro dia, trabalhava em cima daquela ideia. Muitas daquelas ideias da madrugada eram ruins. Bem ruins. Ruins pra chuchu. Estas, eu descartava logo pela manhã. Outras, porém, eram boas e, dentre essas, algumas eram realmente muito boas. Na verdade, pouco importa se eram ruins ou boas. O fato é que eu tinha ideias e, a maioria delas, com início, meio e fim. Bastava dar sentido à coisa. Essa fase foi boa.

Depois eu continuava tendo ideias. Elas seguiam surgindo do nada, em qualquer lugar e ocasião. No ônibus, no trabalho, no banheiro, caminhando na rua, pagando uma conta. Surgiam. Elas, porém, já não vinham completas. Apareciam em pedaços. A ideia dava as caras, eu anotava. Depois, sentava e tentava construir algo a partir dela. Mas não rolava. Não conseguia avançar. Ainda não consigo. Hoje mesmo, peguei alguns daqueles textos inacabados, quebrei a cabeça, bebi umas xícaras de café, e nada. Nada de nada mesmo. Nem uma linha. Essa fase foi complicada.

Quando eu achava que as coisas não poderiam piorar, eis que pioram e, agora, não tenho ideias completas, não tenho ideias pela metade, não tenho ideias. E não tenho ideia das razões pelas quais eu não tenho ideias.
Que triste.

De onde vem a ideia, aliás?

Não sei ao certo, mas acho que ela vem de todos os lugares e de todas as coisas e pessoas e de nós. Talvez elas estejam em nós e precisem apenas de um gatilho, de uma faísca. Sei lá. Só sei que eu não tenho tido ideias e, se elas estão em mim, se esconderam muito bem, as danadas.

E vocês não sabem o quanto é perturbador não ter ideias. É muito perturbador não ter novas ideias e é ainda mais perturbador não ter ideias para preencher e dar fim às ideias incompletas tidas anteriormente. Você se sente um merda. Sério. Se você vive de escrever e não tem ideias para escrever você se sente um bosta. Um bosta completo. E, o que é pior, se você começa a escrever algo e depois não consegue prosseguir, aquilo fica martelando na sua mente. Você pensa naquilo a todo o instante. Você abre aquele arquivo todo o santo dia. E o fecha sem precisar salvar uma vez sequer. Nada de novo. Nem uma palavra. “Que droga de qualquer coisa você é? Você só sabe escrever e ainda assim não consegue terminar um texto que você mesmo começou? Você é um engodo, um fracasso total. Seu merda.”

Pois bem. Eu não tenho tido ideias. Tenho três narrativas longas inconclusas, nove poemas inacabados, e mais uns quantos textos curtos esperando um final. Tenho tudo isso, mas não tenho ideias. A minha última ideia foi escrever isso, sobre como eu não tenho tido ideias. Isso nem é uma ideia e ... hmmm... acho que eu já escrevi isso.......... sim! já escrevi, está lá em cima, pode olhar. Tsc, tsc, tsc. Era só o que me faltava. Agora tenho ideias repetidas. Que tristeza. Depois dessa, vou dormir (mas antes vou pôr o bloquinho e o lápis na cabeceira da cama. Vá que ....).