quarta-feira, 29 de agosto de 2018




Areia do tempo

Não ouviu a voz ao redor.
Não sentiu o pulsar no peito.
Caminhando por entre sombras ele estava.
Livre de toda a dor que um dia carregou consigo.


Distante de tudo, olhou para dentro de si.
Encontrou resquícios de inocência,
Restos de confiança,
Retalhos de saudade.

Nas mãos, impressas na carne, memórias que não pode apagar.
Irá levar para aonde for.
Como troféus.
Conquistas de uma vida de derrotas e vitórias.
De lágrimas e sorrisos sobrepostos.

Foi barqueiro de sua jornada.
Origem, caminho e destino da travessia.
Foi passo na estrada, vela ao mar.
Linha reta por entre curvas livres.

Os amores que teve,
Os lábios,
Os corpos,
Os olhares,
Eram ele.

Estavam em sua pele e ossos.
Estavam em seu sangue e músculos.
Estavam em suas células.
Em cada uma de suas células.

Não se despediu quando foi embora.
Não disse “adeus” nem “olá”.
Não havia início.
E não havia fim.

Sentiu saudade dos dias que não viveria mais.
O ponteiro correu.
O vento soprou.
A janela bateu.
A vida passou.

Por entre os dedos.
Feito areia
Do tempo
Que não volta mais.