sexta-feira, 24 de julho de 2015

Reunião de família



Quando eles receberam as ligações, telegramas, e-mails, mensagens no celular, dependendo da idade que cada um tinha, todos já imaginaram qual era o motivo daquela convocação para uma reunião familiar de urgência.

Era uma tarde de domingo primaveril. As flores dos ipês roxos forravam as calçadas da rua. No jardim da frente da casa, as roseiras brancas e vermelhas se intercalavam formando um perfumado mosaico.

Eles foram chegando aos poucos. Alguns vinham de longe, de outros estados, enquanto outros moravam no mesmo bairro. Muitos abraços, beijinhos e tapinhas nas costas marcavam os reencontros.

Enquanto aguardavam o restante dos convocados chegar, os que já ali estavam reuniam-se em pequenas rodas de conversa. Os homens mais velhos falavam sobre futebol e política, alternadamente. As mulheres não desviavam o foco e ponderavam sobre as possíveis soluções para o problema que motivara o encontro daquela tarde. Isso, claro, se o problema fosse aquele que elas achavam que era. Meninos e meninas mais jovens se misturavam e tratavam de banalidades.

Havia, no ambiente, uma mistura de tensão, ansiedade, dúvida e até graça. O segundo bule de café quente e forte já estava acabando, e o último dos filhos de dona Aurora ainda não havia chegado. Tinha ficado preso em um congestionamento na ponte da entrada da cidade. Algum maluco em desespero ameaçava se jogar lá de cima nas águas turvas do lago.

A espera pelo único ausente revelava as idiossincrasias e expunha as entranhas daquela família. Das mulheres, Isabel era a irmã do meio. Mostrava uma aparente tranquilidade, quase um torpor. Os ansiolíticos em sua bolsa mascaravam sua total incapacidade de enfrentar a realidade da vida fútil e sem propósitos que levava. Para não desmoronar, agarrava-se às drogas receitadas por um médico preguiçoso qualquer.

O filho homem mais novo, Henrique, gargalhava em alto e bom som. Era jovem, havia sido agraciado em demasia com os belos traços físicos da família, tinha um emprego que pagava bem, um carro importado, vestia roupas de grife, morava em um apartamento de cobertura e era bajulado por amigos e conhecidos. Era querido por todos na família por estar sempre de bom humor e tratar a todos, indistintamente, com muita simpatia e educação. Henrique era gay. Ninguém na família sabia. Nem sua mãe, nem seus irmãos e irmãs, nem seus sobrinhos, nem ninguém. Ele sabia que iria ter de enfrentar muita resistência, que tudo o que era e o que conquistara passaria a ser questionado. Ele conhecia bem o seu eleitorado familiar. Seus irmãos eram todos conservadores. Seus sobrinhos tentavam transparecer uma imagem de modernos, com a cabeça aberta, mas eram, no fundo, pequenas cópias de seus pais. Somente dona Aurora, talvez, o fosse entender de verdade, sem julgamentos, sem condenações. Enquanto isso, enquanto tentava criar coragem para assumir quem realmente era diante de todos, ele seguia sendo quem não era, mas aquele que todos invejavam e gostariam de ser.

Dois dos netos, Rafaela e Lucas, evitavam-se. Sequer ficavam na mesma parte da casa ao mesmo tempo. Para os outros jovens da família, passavam a imagem de não se gostarem. Mas eles se amavam. Trocavam olhares lascivos à distância. Desejavam-se. Pensavam um no outro antes de dormir. Escreviam mensagens apaixonadas. Encontravam-se às escondidas há seis meses. Mantinham tudo em segredo. Um escândalo familiar, nesse momento, seria a pior coisa que poderia acontecer. Eles tinham ciência disso. Eram jovens, estavam apaixonados, mas tinham ciência disso.

A filha Suzana apanhava do marido e usava o uísque e a cocaína para esquecer. Ela ainda não criara coragem para denunciá-lo. O filho Antônio gastava o dinheiro do salário no jogo antes de chegar em casa. A neta Letícia se prostituía nas noites de quinta, sexta e sábado para pagar a faculdade de Publicidade. O neto Ricardo contraíra HIV depois de usar uma seringa compartilhada em uma noite de excessos juvenis. Ele ainda não sabia disso.

Faltavam três minutos para as cinco da tarde quando o retardatário chegou e, então, puderam reunir-se todos na grande sala de jantar e começar a busca por um entendimento comum.

Foi o recém-chegado, o filho mais velho, que tomou a palavra inicial. Augusto agradeceu a boa vontade de todos, falou sobre a dificuldade em reunir a família daquela forma, dos compromissos e das distâncias que os afastavam, da seriedade da questão a ser tratada. Antes de passar a palavra para Clara, a irmã mais velha, que era médica, disse que a decisão não teria de ser, necessariamente, tomada naquela tarde, que todos poderiam ir para as suas casas pensar a respeito e que um novo encontro seria marcado dentro de um mês para que cada um expusesse suas considerações conclusivas. Era uma sábia decisão. Apontamentos feitos de forma açodada não costumam gerar bons resultados.

Clara falava com uma tranquila seriedade que atraía a atenção de todos, até dos mais jovens. Ela era cativante. Não precisava levantar a voz, nem fazer gestos bruscos. Clara era sutil. Além de ser a figura mais doce da família, ela também foi escolhida para explicar o quadro, principalmente, por ser médica. Poderia destrinchar os detalhes, esclarecer dúvidas. Poderia ser simples e direta, mas, ainda assim, mantendo a ternura que lhe caracterizava.

“Mamãe tem Alzheimer. “

Silêncio.

Olhares incrédulos. Mãos sobre as faces.

Dona Aurora sempre fora uma mulher extremamente ativa. Morava sozinha e fazia questão de ser independente em tudo. Nunca se queixava. Ia duas vezes por semana à academia fortalecer a musculatura. Fazia caminhadas diárias de três quilômetros. Preparava a própria comida, cuidava do jardim, de dois cães e de uma gata. Participava de um grupo de mulheres que prestava serviços comunitários no bairro e organizava festas na igreja para arrecadar dinheiro para famílias carentes. Ela tinha 89 anos de idade.

Tudo começara em um sábado. Dona Aurora acordara cedo, como de costume. Tomara o café da manhã, dera de comer aos animais e saíra para ir à feira comprar frutas, verduras, queijo colonial e mel direto do produtor. Era sempre assim há pelo menos dez anos. Depois das compras, ela costumava passar na casa de uma amiga, Mercedes. Lá, sorvia o mate, colocava a conversa em dia e dava uma olhada nas peças de croché que a parceira de conversas fazia. Naquele sábado, dona Aurora não aparecera na casinha modesta de madeira de sua amiga. Havia algo errado. Mercedes não esperou passarem mais de cinco minutos do horário em que Aurora costumava cruzar seu jardim. Ela nunca se atrasara antes. Correu ao telefone e ligou para a polícia para comunicar um desaparecimento. Obviamente, a polícia não achara que um atraso de alguns minutos em uma visita matinal de sábado poderia se configurar em um desaparecimento. Nem deram muita bola. Mercedes, então, colocou um casaco, seus tênis de caminhada, e saiu para ver se encontrava Aurora em algum lugar. Depois de 1h45min de buscas, ficou sabendo que a amiga tinha sido avistada caminhando em direção ao parque central. De posse da informação, entrou em um táxi e foi para lá. Já próxima ao destino, avistou Aurora. Ela caminhava a esmo, sozinha, olhando para frente sem um foco definido. Carregava as compras em sacolas. Mercedes se aproximou e conversou com a amiga, que parecia desorientada. Colocou-a no táxi e a levou para casa.

Ainda na casa de Aurora, Mercedes ligou para Augusto e relatou o ocorrido. O filho ouviu com atenção e agradeceu o cuidado dispensado. Mal colocou o telefone no gancho e já saiu em direção à casa da mãe. Eram muito próximos. O primogênito sempre fora o queridinho de dona Aurora. Já na companhia dela, não conseguiu notar nada de diferente. Aurora não sabia explicar a razão de ter ido para o parque e não para a casa de Mercedes após as compras na feira. Estava um pouco confusa, mas ele pensou que poderia ter sido uma insolação, pois fazia calor e o sol ardia com força em um céu sem nuvens. Mesmo sem achar que poderia ser algo mais sério, ligou para Clara. A irmã era médica e poderia saber melhor o que se passara.

Clara não achou que aquele era um esquecimento natural de uma pessoa na idade da mãe. Dona Aurora tinha uma memória excelente. Havia algo de errado. No dia seguinte, bem cedo, passou na casa da mãe, a pegou e a levou ao hospital em que trabalhava. Depois de uma manhã e tarde inteiras de exames, consultas, conversas e debates entre a equipe médica, o diagnóstico foi definitivo: Aurora tinha Alzheimer.

A primeira coisa que Clara fez depois de receber a notícia, foi sentar-se com a mãe na sala de acolhimento. Com toda a clareza possível, explicou o que se passava. Dona Aurora custou um pouco a entender tudo. Levou muitos minutos para processar a informação que acabara de receber. Ela vinha esquecendo-se de muitas pequenas coisas nos últimos meses. Esquecia-se de fazer as compras do dia, de colocar o lixo para fora, esquecia-se de fazer uma visita que havia prometido. Agora, aquelas coisas que vinham lhe incomodando, mas às quais ela não dava importância, faziam sentido. Estava doente.

Depois de falar sobre a doença, sobre a evolução, sobre as terapias, sobre os cuidados, Clara disse para a mãe não se preocupar, que toda a família estaria ao seu lado, que ela teria os melhores tratamentos disponíveis. Dona Aurora ouviu tudo atentamente e não parecia preocupada. Confiava nos avanços da medicina e confiava ainda mais na filha. Se Clara disse para ela não se preocupar, ela não se preocuparia.

Tudo naquela família mudou depois da confirmação do diagnóstico. Os filhos de dona Aurora nunca haviam se visto em uma situação como aquela. Nunca tiveram de se envolver em nada da vida dos pais. Depois de perder o marido, Aurora manteve a serenidade. Na verdade, foi ela quem encarou a morte de Olavo com mais tranquilidade. Os filhos acharam que ela iria desmoronar sem o amor de uma vida inteira, mas se enganaram. Ela foi forte e segura. Foi Aurora que acabou sendo o esteio dos filhos depois da morte do pai, e não o contrário. Era uma mulher idosa e independente. Gozava de uma saúde de ferro e fazia questão de viver sem precisar da ajuda de ninguém. Costumava dizer que, no momento em que se tornasse um fardo para seus filhos, iria sumir do mapa. Pegar suas coisinhas e desaparecer no mundo.

A doença não a fez mudar o modo como via as coisas. Aurora não se sentia doente. Não sentia dores, não estava incapacitada de fazer nada. Esquecia coisas, mas havia coisas que já não queria mais lembrar mesmo. Assim, chegava até a ver algo de positivo na doença. Ela ainda estava na fase de negação. Não enxergava a seriedade do Alzheimer. Chegava a fazer troça da doença. Sempre fora assim. Fazia questão de ver o lado positivo de tudo. Mesmo quando esse lado não existia.

Os filhos, ao contrário, piraram. Clara era a única que mantinha a razão. Os outros passaram a agir de modo enlouquecido. O primeiro pensamento que veio à cabeça de todos foi: mamãe vai morrer. Uma doença séria em uma mulher idosa. Conclusão óbvia. Com o tempo, os nervos se acalmaram. Não passava um dia em que a filha médica não recebia três ou quatro ligações de irmãos e sobrinhos querendo saber detalhes sobre o quadro de saúde de Aurora. Os netos, mais antenados, buscavam confirmar o que haviam lido na Internet. Os filhos, em ignorante histeria, queriam respostas definitivas para perguntas genéricas. Clara não era neurologista, não conhecia a fundo os detalhes do Alzheimer, mas tentava acalmar a todos, esclarecendo o que podia esclarecer e prometendo descobrir mais sobre os pontos que desconhecia.

David era o neto mais jovem de Aurora. Tinha dez anos de idade recém-completados. Ele era filho de Clara. Sempre que sua mãe fazia plantão no hospital, o menino ficava aos cuidados da avó. Assim, eram muito próximos. David tinha asma e seis graus de miopia. Usava óculos de lentes grossas e não ia a lugar algum sem a sua bombinha. Há tempos ele percebia que a avó estava diferente. Ficava meio aérea em alguns momentos. Recostava-se no vidro da janela fechada e ficava olhando para a rua por muitos e muitos minutos. Nestes momentos, era como se se desligasse de todo o mundo ao seu redor. Era somente ela, aquela janela e a rua lá fora. David via as horas junto à avó como instantes mágicos de troca. Ela cuidava dele, lhe contava histórias, lhe fazia bolinhos cobertos com açúcar e canela e lhe deixava ver televisão até tarde. Ele lhe fazia pequenos favores, lhe acompanhava em saídas e lhe ajudava a lembrar onde havia deixado as chaves, o telefone sem fio e seus apetrechos de costura. Davam-se muito bem, avó e neto.

Diante do descontrole emocional dos filhos, que não conseguiam lidar com suas disfunções pessoais e com a ideia de que sua mãe estava doente da cabeça, Aurora encontrou no pequeno David o seu parceiro. O menino foi o único que não passou a vê-la com olhos piedosos. Para ele, nada mudara. Sua avó continuava a mesma pessoa. Ele não tinha pena dela, não achava que ela iria sair porta afora e se perder pelas ruas da cidade a qualquer momento. Quando olhava para ela, ele não enxergava uma idosa com uma doença mental. Para David, Aurora era a sua avó amada e era somente isso que lhe importava. Era somente isso que seus jovens olhos míopes viam.

Aproximaram-se de tal modo, que a única companhia familiar com a qual Aurora se sentia leve e relaxada era o neto mais novo. Com David, ela não se policiava, não se preocupava em se mostrar sadia, em não dar indícios ou sinais da doença que lhe acometia e que, nos momentos de solidão, a fazia se sentir cada vez mais distante de tudo e de todos.

Clara fazia plantão na emergência do hospital geral da cidade nas segundas, quartas e sextas. Além disso, também trabalhava à noite e na madrugada em um sábado e um domingo por mês. Assim sendo, David ficava com a avó em, no mínimo, 14 dias ao mês. Isso sem contar os finais de semana em que, por conta própria, o menino enchia sua mochila com algumas roupas e livros de histórias em quadrinhos e pedia para a mãe o levar para a casa de Aurora.

Tornaram-se, desta forma, mais do que avó e neto. Ficaram amigos, confidentes. David fez questão de continuar ficando na casa de Aurora nos dias de plantão da mãe mesmo depois do diagnóstico do Alzheimer. Para ele, não havia razão para deixar de fazê-lo. Sua avó não representava risco algum. Era uma senhorinha idosa muito divertida e que esquecia coisas. Era assim que ele via a situação.

Passaram-se quatro meses desde o primeiro encontro familiar em que todos souberam que a matriarca estava doente. Era, mais uma vez, um fim de tarde de um domingo. Reunidos na sala de estar da velha casa, os filhos de dona Aurora travavam uma ferrenha contenda acerca do futuro daquela família. A grande discussão girava em torno de uma questão: o que fazer com a mãe de todos eles? Não havia um consenso. Enquanto Augusto achava que o melhor para a mãe era permanecer em casa, próxima dos filhos e netos e que, para isso, todos deviam colaborar financeiramente e uma cuidadora de idosos deveria ser contratada, Antônio esbravejava contra, dizendo que o melhor lugar para a mãe era em um asilo, sob o cuidado de profissionais preparados para atender pessoas no estado de Aurora. Isabel, por sua vez, parecia pouco preocupada, mas deixava claro que não queria ter de perder tempo de sua vida cuidando de uma velha caduca. Henrique e Clara achavam que estar junto da família seria o melhor para a mãe. Entretanto, enquanto o caçula, em pé e com o dedo em riste, dizia que todos tinham a obrigação de cuidar e de dar o máximo de atenção e tempo possível para a mãe, fazendo sacrifícios para isso, se necessário, Clara, com sua cabeça de cientista, ponderava que, mais do que amor e carinho, Aurora precisava era de cuidados médicos e, portanto, ficar em casa sozinha durante a maior parte do tempo, na maior parte dos dias, não era o indicado para uma pessoa na situação da mãe.

A discussão prosseguia sem dar indício algum de que teria um fim em breve. Em meio ao bate-boca, temas correlacionados, ou nem tanto, vieram à baila. Antônio, o jogador, questionou se a mãe teria feito um testamento. Após um momentâneo silêncio de todos, disse que não era hipócrita e que não negaria que estava pensando em como seria a divisão dos bens quando a mãe morresse. Fez questão de frisar que não queria nada físico, nenhum bem, apenas dinheiro. Tentando transparecer um pudor que em nada diminuía a vergonha que estampavam em seus rostos, todos baixaram o tom de voz e não se negaram a tratar da questão por alguns minutos. Vender a casa e os dois carros antigos, que haviam pertencido ao pai deles e que estavam guardados na garagem acumulando pó, e dividir o dinheiro entre todos, foi a ideia que ganhou mais adeptos. O único que se opôs com veemência foi Augusto. Para ele, aquela casa era mais do que apenas um imóvel com preço fixado pelo mercado imobiliário. Ele percebia um valor acima do financeiro. Havia sido criado ali, vira seus filhos crescerem correndo naquele pátio. Em seu íntimo, pensou em comprar a parte de cada um dos irmãos e ficar com a casa para si. Sabia que não tinha dinheiro para isso, mas, ainda assim, passou a alimentar, em segredo, a ideia.

Quem arcaria com os custos do tratamento, quem iria pagar a cuidadora se Aurora permanecesse em casa, quem iria pagar o asilo se ela fosse para um, quem iria pagar a clínica se a internassem. Quem iria separar mais tempo para ficar junto à mãe, quem iria tratar das questões burocráticas envolvendo documentações, pagamento de contas, recebimento da aposentadoria. Quem iria acompanhá-la nas consultas médicas. Quem ficaria com ela quando precisasse ser internada no hospital. Quem?

Sentada na varanda da casa, Aurora tinha David no colo. Enquanto afagava os cabelos castanhos do menino que dormia um sono tranquilo, ela olhava para um ponto infinito à sua frente. Pensava, com lucidez, em tudo o que havia passado para alimentar, vestir, cuidar e educar aqueles meninos e meninas que, agora, discutiam em voz alta, quase gritando, na sala de estar. Pensava nas privações, nas noites sem dormir, na comida que deixou de comer para dar a eles. Tocando as suas enrugadas mãos, pensava na juventude que havia passado a galope diante de seus olhos e que se fora sem que ela tenha a acompanhado para dar uma volta sequer pelos campos da parte alta da cidade. A vida passara como um flash de luz. Ela não se arrependia de nada. Faria tudo de novo se fosse preciso. Aurora amava profundamente aqueles filhos, mas já não os reconhecia mais.


Não há cura para o mal cotidiano
Que mata, pouco a pouco, sem dor, o espírito humano.
Punhal que fere a carne não tira a vida de quem ama.
Palavra que não diz, sufoca o grito de quem clama.


Quem estava doente, afinal?


O maluco que ameaçava se jogar de cima da ponte, se jogou. Ninguém sabe a dor que o outro sente. Ninguém.