JORNADA
Ele olhou nos olhos
dela.
E disse.
“Quero ser brisa. Com você. Quero ser brisa com você.”
Juntos, fizeram-se aragem.
Sopraram forte, nas
madrugadas.
Correram suaves,
pelas manhãs.
Juntos.
Foram vento de
primavera.
Raio.
Fúria.
Clarão.
Rugiu o trovão.
Já eram tempestade.
Fortes. Quentes.
Caíram vivos sobre a
terra.
Escorreram. Fluíram.
Brotaram verdes em
uma tarde de domingo.
“Você se lembra do dia em que nos conhecemos? Consegue lembrar?”, ela
perguntou.
Cresceram.
Eram caule. Eram
folha. Eram ramo.
Eram flor, ao
amanhecer.
Primeiro, vermelha.
Depois, amarela. E lilás. E rosa.
E todas as cores.
Juntos.
E viram o cinza lá
nas nuvens.
E misturaram-se com
os pingos de chuva.
Fizeram-se água.
Percorreram trilhas e
canais. Seguiram.
Eram rio.
“Eu sinto”, ele respondeu.
Cruzaram terras
distantes.
Semearam vida em
campos secos.
Saciaram os que
tinham sede.
Renasceram.
Já eram pássaro.
E dominaram os céus.
Riscaram o azul.
Amanhecer nos lagos
do Norte.
Anoitecer nos mares
do Sul.
Donos do mundo.
Tomaram o tempo para
si.
Não havia mais tempo.
Tudo era para sempre.
O instante. O
momento. O agora. O antes. O depois.
Tudo era para sempre.
“Eu vou te amar até enquanto eu respirar”, ela falou.
E subiram. Subiram.
Subiram. Subiram.
Romperam as barreiras.
Eram estrela.
E brilharam.
Brilharam. Brilharam. Brilharam.
Iluminaram a noite
escura.
Guiaram os espíritos
perdidos.
Velaram o sono dos
poetas.
Aproximaram-se.
Uniram-se ainda mais.
Eram luz.
Percorreram as
galáxias.
Velozes. Indômitos.
Fizeram do universo o
seu quintal.
Alcançaram o
infinito.
“Eu vou ser o ar que tu respiras”, ele disse.
Voltaram ao início.
Estavam em casa.
Olhos nos olhos.
Caíram sobre a pele.
Eram lágrima.
Retrato sobre a mesa.
Toque das mãos.
Abraço apertado.
Gota final.