domingo, 24 de agosto de 2008

Breve relato de uma situação verídica

Calado. Por alguns instantes ele permaneceu calado. Suas feições expressavam a dúvida que lhe corroía as entranhas. Os poucos segundos de silêncio e hesitação pareciam horas que passavam lentamente. Ela, na sua frente, esperava uma resposta. Seu pé direito batia ritmadamente no chão. Seus olhos estavam ávidos por uma palavra, por uma expressão que demonstrasse a opinião dele. Ele continuava calado. Com uma serenidade no olhar, ele mirou a cabeça dela. Fixou-se nos detalhes. Ele não sabia o que fazer. Ele não sabia se dizia o que ele realmente achava ou o que ela queria ouvir. Um “tá bonito” resolveria a questão. Mas ela pediu uma resposta sincera. Maldita hora em que ela disse “me responde o que achou do meu novo penteado, ... e seja SINCERO”. Assim, enfatizando a pronúncia no “sincero”. A sinceridade custaria alguns aborrecimentos a ele. Talvez até alguns xingamentos. Ele a fitou por mais alguns instantes. Cuidadosamente, pôs a mão no queixo e disse: “ficou legal”. Legal é uma palavra que pode ser empregada em diversas situações. Legal poderia significar ótimo, ou diferente, ou até extravagante. “Ficou legal” foi o que ele disse. Ela respondeu “que bom” e os dois foram ao cinema, sem não antes ele dizer para ela pôr um chapéu, porque estava bem frio naquela noite porto-alegrense.

Um comentário:

Frederick Martins disse...

Boa idéia. Vou começar a carregar um gorro reserva na pasta.