Eram umas 20h30min mais ou menos quando eu peguei o ônibus ontem, pós-trabalho, rumo à minha casa, na zona Sul de Porto Alegre. Seria mais uma daquelas viagens maçantes de 20 minutos, de pé, tendo de aguentar as bruscas freadas do motorista que conduzia o coletivo. Seria, mas não foi.
Subi no ônibus e me coloquei ao lado de um banco em que duas meninas estavam sentadas. A minha colocação ali foi totalmente casual. O que se seguiu foram cenas sujas do mais puro preconceito e cenas lindas do amor sendo expressado sem pudores.
As duas meninas, e digo meninas porque elas deviam ter entre seus 16, 17 ou, no máximo, 18 anos, se acariciavam com um carinho comovedor. Tocavam-se, alisavam-se. Uma mexia no cabelo da outra. Uma delas, a morena, recostou a cabeça sobre o ombro da outra, a loira, enquanto esta lhe fazia cafuné. E assim foi durante todo o trajeto. Elas se olhavam ternamente nos olhos e se beijavam. Sem vergonha. Sem medo do que os outros iriam pensar. Elas se amavam e isso bastava para as duas. Estas eram as cenas lindas e comovedoras.
As cenas sujas foram estas. Pessoas se olhando e fazendo sinal de negativo com a cabeça, olhares de canto de olho para elas seguidos de cochichos. Uma mãe com seu filho, que havia entrado depois e sentou no banco atrás das meninas, quando as duas se beijaram, se levantou e foi para a parte da frente do veículo, permanecendo de pé. Duas senhoras que estavam sentadas no banco atrás de mim falavam, sem a preocupação em baixar a voz. “Que absurdo. Não se respeita mais ninguém. Duas gurias bonitas fazendo isso. Não sei como o cobrador deixa”. Isso foi o que eu ouvi e o que eu vi.
Eu fiquei ali. Parado. Não me incomodei nem um pouco com as meninas apaixonadas. Pelo contrário, achei toda a cena de uma beleza ímpar. Elas eram uma ilha de beleza cercadas por um oceano de sujeira.
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