sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Das coisas que eu preciso

Pela primeira vez em anos fiquei 10 dias sem acessar a internet, sem ouvir rádio AM, sem parar para ver noticiários na TV e, somente de vez em quando, comprando jornal para ler. Foi sem dúvida uma experiência bem interessante. Valeria um estudo antropológico (ou uma monografia como diria um certo professor). Ao final do período, já em Porto Alegre, pensei sobre a situação e cheguei à conclusão de que sou deveras dependente de informação. Passei por crise de abstinência de informação. Apesar dos pesares, acho que foi bom. Foi quase como um rehab.
O jornalismo é tão apaixonante que faz com que nos esqueçamos de nós mesmos. Pelo menos comigo é assim. Os dias de folga clarearam um pouco as ideias. Comecei falando sobre isso para tratar de uma questão relacionada. Em momentos solos de avaliações, reavaliações, pensamentos confusos, ideias novas (praticamente todas descartadas) e observações na beira do mar (que, aliás, é um lugar bem adequado para isso), percebi que eu seria uma pessoa bem melhor se tivesse algumas coisas que hoje não tenho e se agisse de forma diferente da que ajo hoje em determinadas situações.
Senão vejamos. Definitivamente, meu limiar de paciência tem de diminuir. Não que ache ruim ser paciente, dificilmente se irritar com algo. Ao contrário. Entretanto, alguns momentos exigem uma atitude mais drástica, uma resposta imediata, pois, se isso não ocorrer, corre-se o risco daquele fato acontecer de novo, e de novo, e de novo, passando a ser corriqueiro e tornando-se rotina. Não sou de brigar, discutir, levantar a voz. Não gosto mesmo e quem me conhece sabe disso. Mas, às vezes, uma posição mais dura, um posicionamento claro, a exposição do pensamento completo, se faz necessário. Mantendo sempre a educação e o cavalheirismo. Sempre.
Outra coisa: cada vez mais, percebo-me consideravelmente sozinho ao estar com minha família. A distância, principalmente no que se refere a interesses e assuntos em comum tem aumentado bastante. A conexão entre nós (assim como a da Net) tem caído seguida e paulatinamente. Nessas férias, percebi de forma ainda mais clara, como sou dependente do contato social. E as relações familiares são sempre recheadas de convenções estáticas, atitudes rotineiras. Um comportamento quase que automático. Ver as pessoas se divertindo e curtindo os momentos de alegria e descanso com outras pessoas, companhias de verdade, ligadas mesmo, parceiros, duplas, companheiros, fez surgir em mim sentimentos de melancolia e até de inveja. Percebo que não lembrarei de nenhum dia dessas férias daqui a seis meses. Não houve nenhum momento realmente especial. Os momentos especiais estão intimamente relacionados a pessoas e não a lugares. Descansei bastante, recarreguei as baterias, as dores de cabeça do início da noite desapareceram. Conheci lugares bacanas e pessoas interessantes. Legal. Bom. Bom mesmo. A vida, porém, exige mais. Viver de verdade não é viver muitos momentos bons. Os extremos são o que ficam, o que marcam. Nessas férias ficou mais transparente para mim que a vida é feita de pares. Que para existir, por completo, o um precisa do outro. Cara e coroa. Bom e mau. Cão e gato. Noite e dia. Céu e Terra. Ele e ela. Sem sentimentalismos baratos, preciso de dias hoje para lembrar amanhã. Um, dois três e já: dois é par. Perdi. Jogo de novo daqui a alguns meses.

5 comentários:

Pati Benvenuti disse...

Nossa, que texto bonito, lindo mesmo, corajoso...

Paula disse...

Faço coro a Pati. Coragem.

Unknown disse...

Primo! Que barato! Adorei o texto, e concordo com tudo o que você disse! Somos como anjos de uma só asa..., precisamos de outra asa para podermos voar!

natusch disse...

Puta texto maravilhoso, meu rapaz. Gostei especialmente desse pequeno trecho: Viver de verdade não é viver muitos momentos bons. Os extremos são o que ficam, o que marcam. É exatamente isso, sabe? A vida, ao menos para pessoas como nós, precisa de movimento. A tranquilidade às vezes é necessária, mas temos que andar junto com a vida, e não ficar sentado na estação vendo os trens passando... "Para que enfim, chegando à última calma /
Meu podre coração roto não role /
Integralmente desfibrado e mole /
Como um saco vazio dentro d'alma!" (já que é para citar Augusto dos Anjos, hehehe...) Abraço!

Adorno disse...

"A conexão entre nós (assim como a da Net) tem caído seguida e paulatinamente." Haha, amo esse cara.