Isto está perto. Aquilo está longe. Perto e longe. Distâncias e proximidades. Como quase tudo na vida, o significado do que é perto e do que é longe não é definitivo. Distâncias e proximidades estão muito mais relacionadas com sentimentos do que com localizações físicas. Digo isto sem considerar aquela sensação clichê (mas muito verdadeira) de que estando em um lugar podemos, através da imaginação, ir longe, viajar.
Refiro-me mais especificamente à real sensação de estar em outro lugar. Sensação esta que está intimamente ligada a pessoas. É difícil, para não dizer muito difícil (para não dizer impossível), sentir-se e visualizar-se em outro lugar que não o que se está fisicamente sem que uma pessoa seja a razão para isso. Você não vai se perceber em outro lugar somente porque gosta daquele lugar, porque aquele é um lugar bonito e agradável. O máximo que pode ocorrer é você se sentir em outro lugar porque aquele lugar faz você relembrar de momentos em que passou ao lado de alguém. Assim, você não se sentirá em outro lugar por causa de uma pessoa, e sim em razão de esse lugar te lembrar uma pessoa.
Perto e longe. Distâncias e proximidades.
Da mesma forma como os quilômetros impedem o aperto de mãos, impossibilitam o abraço apertado e tornam impossível um simples beijo no rosto, eles inflamam sentimentos. A distância funciona como uma dose a mais de oxigênio para o fogo.
Esse sentimento inflamado não é, porém, um sentimento irreal, surgido a partir da criação de expectativas sobre o outro, sobre o desconhecido. Ele pode até ser, mas não necessariamente é. Como disse, a distância é uma dose a mais de oxigênio, um extra. A faísca já tinha ocorrido e o fogo já existia.
Falo sobre isso porque tenho me sentido e me visto cada vez mais em outros lugares que não o que eu estou. Seguidamente me percebo ao lado de amigos queridos que não encontro há algum tempo e mais seguidamente ainda tenho estado junto a alguém que nunca estive sequer perto fisicamente. Não sei se isso é normal, mas o fato é que tem ocorrido e que não vejo problema. Ao contrário. Gosto quando isso ocorre. É uma fuga à realidade (e um encontro com o que é real pra mim) que tem me feito bem.
As coisas à minha volta tem ocorrido de um modo muito convencional para o meu gosto. Muito mesmo. Sinto uma tremenda vontade de jogar tudo pro ar e sair por aí. Até motivo eu tenho. Ir atrás do que eu quero. Encontrar o que eu quero e quem eu quero. Não importando os empecilhos que essa realidade falida me apresenta. Não importando as distâncias e os caminhos. Não importando nada.
Não sei o que falta para eu fazer isso. Não sei, ainda, o que é, mas sinto que falta alguma coisa. Sinto que falta alguma simples coisa (simples, mas gigante). Hoje falta menos do que ontem e amanhã faltará menos ainda. Quando não faltará nada? Não sei. Talvez nunca. Talvez já não falte e eu crio motivos por medo. Talvez. Enquanto isso, eu sigo aqui, mas estou longe. Bem longe.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Os últimos 30 dias
E se os próximos 30 dias fossem os últimos da sua vida? O que você faria? O que você diria? Para quem você diria?
Pensei nisso. E pensei muito nisso. Fiquei um tempo exageradamente grande pensando nisso. Não é fácil pensar nisso quando se pensa seriamente nisso. Pensar nisso é pensar na morte, mas, pensar nisso, é, sobretudo, pensar na vida. E isso é muito difícil. Doloroso até.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida (e eu soubesse disso), eu iria agradecer a todas as pessoas que foram e são parte importante dos meus dias; eu iria dar os meus livros e cds e todas as coisas das quais eu mais gosto para as pessoas as quais eu mais gosto; eu queimaria as minhas calças e só usaria bermudas; eu diria a todas as pessoas com as quais me relaciono o que sinto por elas; eu compilaria em um único meio tudo o que, querendo escrever, eu escrevi em diversos lugares e deixaria para a minha mãe; eu faria uma fogueira com o meu computador e dançaria ao redor dela.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu iria ao Sul da Bahia, ah..., certo que eu iria e levaria livros nas mãos; eu diria aos meus irmãos que, apesar de, às vezes, sentir vontade de matá-los, em qualquer momento, eu mataria por eles; eu subiria na minha moto e sairia por aí, pegaria a estrada e iria parar onde me desse na telha, andaria e conheceria lugares e conheceria pessoas e experimentaria sensações e sorriria e faria sorrir e choraria e faria chorar.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu tentaria vivê-los do modo mais humano, emocional e instintivo possível, despreocupado com as conveniências, despreocupado com a razão; eu saltaria de para-quedas, eu voaria de asa delta; eu me aproximaria de quem quero me aproximar (e iria aonde fosse preciso para isso).
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu destruiria todos os relógios; eu não me preocuparia nem um pouco com o tempo, eu faria o meu tempo passar lento quando eu assim quisesse e rápido quando tivesse vontade; eu ficaria a maior parte possível dos dias sem um teto sobre a minha cabeça, eu ficaria na rua, caminhando, olhando, falando, ouvindo.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu não buscaria respostas. Para que elas me serviriam? O único motivo de se viver é não saber o que está atrás da próxima porta. Eu iria a um jogo do Grêmio com o meu pai e faria daqueles minutos uma eternidade e, depois, iria pescar com ele, passando a noite sob as estrelas ouvindo-o contar suas histórias.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu os viveria com paixão. Eu viveria uma paixão. Eu me apaixonaria. A cada dia uma paixão nova. Eu não odiaria, se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu faria tudo isso nos primeiros 29. No último, no trigésimo dia, eu sumiria. No trigésimo dia eu iria para um lugar em que ninguém, mas ninguém mesmo, pudesse me encontrar. Eu não gostaria que ninguém me visse nos instantes finais, eu não gostaria que ninguém chorasse por mim, eu não gostaria que ninguém sentisse pena de mim; eu gostaria que meus amigos lembrassem de mim enquanto tomassem um chopp em uma mesa de bar; eu gostaria que meus pais e irmãos almoçassem juntos e fizessem um brinde para mim, rindo das bobagens que falei; eu gostaria que alguém lesse algo que lhe escrevi, pensasse em mim e desse um sorriso (uma gargalhada seria ainda melhor). Passadas as 23 horas iniciais do trigésimo dia, eu deitaria em um relvado e ficaria olhando as estrelas. Eu ficaria olhando para o céu, pensando em tudo o que eu fiz e em tudo o que deixei de fazer. Pensando em tudo o que eu disse e em tudo o que deixei de dizer, em tudo o que senti e em tudo o que deixei de sentir. Eu ficaria ali, imóvel, sereno, pacientemente, esperando a inevitável chegar, pegar na minha mão e me levar. Eu iria satisfeito. Eu iria feliz, se assim fossem os últimos 30 dias da minha vida.
Pensei nisso. E pensei muito nisso. Fiquei um tempo exageradamente grande pensando nisso. Não é fácil pensar nisso quando se pensa seriamente nisso. Pensar nisso é pensar na morte, mas, pensar nisso, é, sobretudo, pensar na vida. E isso é muito difícil. Doloroso até.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida (e eu soubesse disso), eu iria agradecer a todas as pessoas que foram e são parte importante dos meus dias; eu iria dar os meus livros e cds e todas as coisas das quais eu mais gosto para as pessoas as quais eu mais gosto; eu queimaria as minhas calças e só usaria bermudas; eu diria a todas as pessoas com as quais me relaciono o que sinto por elas; eu compilaria em um único meio tudo o que, querendo escrever, eu escrevi em diversos lugares e deixaria para a minha mãe; eu faria uma fogueira com o meu computador e dançaria ao redor dela.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu iria ao Sul da Bahia, ah..., certo que eu iria e levaria livros nas mãos; eu diria aos meus irmãos que, apesar de, às vezes, sentir vontade de matá-los, em qualquer momento, eu mataria por eles; eu subiria na minha moto e sairia por aí, pegaria a estrada e iria parar onde me desse na telha, andaria e conheceria lugares e conheceria pessoas e experimentaria sensações e sorriria e faria sorrir e choraria e faria chorar.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu tentaria vivê-los do modo mais humano, emocional e instintivo possível, despreocupado com as conveniências, despreocupado com a razão; eu saltaria de para-quedas, eu voaria de asa delta; eu me aproximaria de quem quero me aproximar (e iria aonde fosse preciso para isso).
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu destruiria todos os relógios; eu não me preocuparia nem um pouco com o tempo, eu faria o meu tempo passar lento quando eu assim quisesse e rápido quando tivesse vontade; eu ficaria a maior parte possível dos dias sem um teto sobre a minha cabeça, eu ficaria na rua, caminhando, olhando, falando, ouvindo.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu não buscaria respostas. Para que elas me serviriam? O único motivo de se viver é não saber o que está atrás da próxima porta. Eu iria a um jogo do Grêmio com o meu pai e faria daqueles minutos uma eternidade e, depois, iria pescar com ele, passando a noite sob as estrelas ouvindo-o contar suas histórias.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu os viveria com paixão. Eu viveria uma paixão. Eu me apaixonaria. A cada dia uma paixão nova. Eu não odiaria, se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida.
Se os próximos 30 dias fossem os últimos da minha vida, eu faria tudo isso nos primeiros 29. No último, no trigésimo dia, eu sumiria. No trigésimo dia eu iria para um lugar em que ninguém, mas ninguém mesmo, pudesse me encontrar. Eu não gostaria que ninguém me visse nos instantes finais, eu não gostaria que ninguém chorasse por mim, eu não gostaria que ninguém sentisse pena de mim; eu gostaria que meus amigos lembrassem de mim enquanto tomassem um chopp em uma mesa de bar; eu gostaria que meus pais e irmãos almoçassem juntos e fizessem um brinde para mim, rindo das bobagens que falei; eu gostaria que alguém lesse algo que lhe escrevi, pensasse em mim e desse um sorriso (uma gargalhada seria ainda melhor). Passadas as 23 horas iniciais do trigésimo dia, eu deitaria em um relvado e ficaria olhando as estrelas. Eu ficaria olhando para o céu, pensando em tudo o que eu fiz e em tudo o que deixei de fazer. Pensando em tudo o que eu disse e em tudo o que deixei de dizer, em tudo o que senti e em tudo o que deixei de sentir. Eu ficaria ali, imóvel, sereno, pacientemente, esperando a inevitável chegar, pegar na minha mão e me levar. Eu iria satisfeito. Eu iria feliz, se assim fossem os últimos 30 dias da minha vida.
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