Ela (foto by Vernom Merritt III - Life) |
Twiggy |
Ela sente o sol banhar seu corpo e fica feliz por ter escolhido a minissaia lilás. É um bom dia para bronzear as pernas. Ela passa por um muro e vê um cartaz, anunciando um grande festival de música e arte que irá acontecer no próximo mês no Estado. “Parece que vai ser legal”, ela diz para si mesma. Ela segue caminhando e chega ao parque. Como ela gosta daquele parque. Ela percorre algumas trilhas e senta em um banco. Olha as pessoas passarem e os pombos comendo migalhas de pão que um senhorzinho com um chapéu na cabeça e um saco de papel na mão jogou. Olha um menino correndo atrás de sua irmã. Eles estavam brincando. Ela também brincou assim naquele parque quando era criança. Ela se levanta e segue seu passeio. O dia continua perfeito.
The who |
Ela gosta de ouvir The Who. Ela gosta de Walt Whitman e de Emily Dickinson. Ela não gosta muito da Twiggy, pois acha ela magra demais. Ela gosta de sorvete de baunilha e do Marvin Gaye. Ela gosta de ir aos jogos do New York Nicks no Madison Square Garden.
Dois rapazes, estudantes, eu acho, deram uma bela olhada quando ela passou. Um deles chegou a falar uma gracinha difícil de compreender. Ela passou e nem olhou para o lado. Apenas deu um sorriso discreto. Seguiu altiva. Cabeça erguida e cabelos balançando. Ela enxerga uma amiga ao longe, mas atravessa a rua e entra na primeira transversal. Ela não queria conversar naquela tarde. Fazia muito calor e aquele era um dia para ver, não para falar. E ela olhava tudo. Olhos bem abertos. E ela viu gente e viu coisas. E viu um cachorrinho perdido e um papagaio em uma gaiola na janela do terceiro andar de um prédio bem antigo. E viu uma plantinha verde brotando em uma rachadura na calçada. E viu um jovem casal tendo uma discussão e um velho casal de mãos dadas cruzando a avenida. Ela gostou disso.
As horas passaram bem rápido naquele dia. Ela nem percebeu,
mas o tempo correu e correu e, quando deu por si, a tarde se encaminhava para o
final. Seus pés já doíam um pouco. Aquela sandália não foi a melhor pedida para quem pretendia apenas caminhar. Um tênis seria melhor. Ela espera se lembrar disso da próxima vez. E, então, ela resolveu voltar para casa. Com a mão direita levando a bolsa às
costas e a esquerda pendente, levando o jornal. Assim ela desfilou e a cidade
parou para vê-la passar.
Há 44 anos, ela passeava pelas ruas nova-iorquinas. E
eu me apaixonei por ela. Hoje, ela continua jovem na imagem da fotografia. Onde
será que ela anda? Como será que ela está? Eu acho que ela ainda se move pelas
ruas da cidade. Prefiro pensar assim. E as pessoas ainda olham para ela. Como
ela é bela... como eu gostaria de tê-la visto passar perto de mim. Eu acho que a
cidade ainda para quando ela está por aí, desfilando. E os lugares por onde ela
passa recendem a perfume de jasmim.
As ruas da cidade e ela são um só. Eles se misturam, se completam, se refazem. Ela é a cidade e a cidade é ela. Que bela é aquela moça pela qual eu me apaixonei e que em um dia, no verão nova-iorquino de 1969, flanava, despreocupadamente, pelas ruas da cidade. Acho que ela ainda vai aos jogos do Knicks.
As ruas da cidade e ela são um só. Eles se misturam, se completam, se refazem. Ela é a cidade e a cidade é ela. Que bela é aquela moça pela qual eu me apaixonei e que em um dia, no verão nova-iorquino de 1969, flanava, despreocupadamente, pelas ruas da cidade. Acho que ela ainda vai aos jogos do Knicks.