sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Os mesmos olhos castanhos, as mesmas mãos miúdas




Foi quando percebeu que já não havia mais o que ser feito, que ele se acalmou. Era inevitável. Ocorreria independentemente do que fizesse ou deixasse de fazer. Sequer demoraria muito. Uma semana ou duas no máximo. Nessa noite, dormiu o sono mais tranquilo e profundo dos últimos dois anos.

Uma amiga estava com ele no quarto quando recebeu a notícia. Os familiares deixaram de visitá-lo já faziam três meses. Sentiram-se ofendidos quando ele disse que, se não queriam estar ali, não deveriam estar e, se não deveriam estar, ele não permitiria que estivessem. Como todos realmente não queriam, aproveitaram a deixa e partiram para não voltar mais.

Eram amigos há pouco tempo. Uns três anos, mais ou menos. Trabalharam juntos por um período, mas ela recebeu um convite tentador de uma empresa concorrente e saiu depois de pouco mais de seis meses de trabalho. Isso, porém, não fez com que se distanciassem. Ao contrário, ao não trabalharem juntos, tinham mais assunto quando se falavam e nunca ficavam com tédio quando estavam um com o outro.

O diagnóstico final foi dado por um médico rechonchudo de bochechas rosadas, cabelo ralo e óculos de aros grossos na ponta do nariz. Segurou a sua mão magra. A pele enrugada e áspera, as veias saltadas. Pôde sentir os ossos finos. Parecia que se quebrariam a qualquer aperto mais forte.

Ele todo era apenas uma imagem apagada daquele homem que um dia fora. Já não tinha mais forças para se levantar sozinho da cama. Circulava pelos corredores e tomava seu banho de sol diário sentado na cadeira de rodas. Perdera trinta quilos desde que recebera o diagnóstico. Alimentava-se por sonda. O câncer no estômago aniquilara com a figura sempre disposta, atlética e divertida de outrora.

Foi tudo muito rápido. Era uma terça-feira quando sentiu um mal-estar digestivo no meio da tarde quando estava no trabalho. Se automedicou e foi para casa já um pouco melhor. No dia seguinte, pela manhã, não conseguiu tomar o café reforçado com leite, pão e frutas. Tomara um iogurte apenas. Passara a quarta e a quinta-feira assim. Na sexta, resolveu ir ao hospital. Fez alguns exames clínicos e viu nos olhos do médico que lhe atendia um ar de hesitação. Foi para casa e, no sábado pela manhã, recebeu uma ligação pedindo que retornasse ao hospital para que mais exames fossem feitos. Estranhou a urgência, mas foi. Testes de imagem, primeiro, e uma biópsia, depois. Era melhor que passasse a noite ali, em observação, lhe disse o doutor. Ficou sem muitos questionamentos. Não havia ninguém lhe esperando em casa mesmo. Na tarde de domingo, pouco depois das cinco horas, três médicos entraram no quarto. As faces tentando esconder algo. Enquanto falavam em tom de tristeza, tentavam transmitir um otimismo que ele percebia que não sentiam. Nunca soubera de um caso de câncer sequer na família. Fora o premiado. Tinha 34 anos.

Era um homem jovem, o tumor era pequeno, não parecia muito agressivo. A equipe médica lhe dizia que um câncer sempre é ruim, mas, se fosse para ter, que ocorresse sempre assim. Ele iria se curar. As chances eram superiores a 90%.

O problema é que ele nunca estivera entre os 90%. Sempre fizera parte dos 10%. Na maioria das vezes, dos 10% melhores. Seja na escola, no vestibular, na faculdade, nas aulas de língua estrangeira, seja nas avaliações no trabalho ou nas estatísticas obtidas em testes cientificamente questionáveis da internet. Desta vez, não era diferente. Estava entre os 10%.

Durante dois anos inteiros, se submeteu aos mais torturantes tratamentos. Tudo o que a medicina tinha para oferecer, passou pelo seu corpo. Um amigo insistiu para que fosse a um médium que incorporava o espírito de um médico alemão e fazia cirurgias milagrosas. Cético como sempre fora, recusou a sugestão. Não desacreditava de todo em milagres. Jamais entenderia, porém, como uma pessoa deixaria um maluco qualquer se dizendo incorporado por um espírito de um médico que vivera em uma época em que não se sabia quase nada sobre doenças enfiar tesouras pelo seu nariz à procura de um tumor. Estava morrendo, mas não perdera a razão.

A medicina, que, para tentar curá-lo, o massacrou durante tanto tempo, foi incapaz de evitar a sua morte. Tão jovem. Jazia na cama do hospital. Fraco, era um rascunho daquele que um dia fora. Um resto mastigado e cuspido fora. Vivia uma semivida, uma vida de mentira.

Agora, porém, tudo isso havia passado. Já não alimentava esperanças de cura. Não iria se safar desta. Morreria. Perderia a batalha contra a doença que tanto o maltratou. Fora uma adversária difícil. Aquele câncer que iria matá-lo fora atacado de todas as formas, por todos os lados, em todos os momentos. E resistira. Fraquejara em alguns momentos, mas voltara ainda mais obstinado. Fora bombardeado por tudo o que o conhecimento humano descobrira e criara para eliminá-lo e não fora derrotado. Era um inimigo valente, corajoso e, sobretudo, forte. Ele respeitava aquele câncer. Aprendeu a respeitá-lo. Não raro, se via conversando com o tumor que lhe deixara naquele estado, que lhe fizera tanto mal. Acostumara-se a ele. Tornaram-se parceiros de uma jornada longa e dolorosa, mas que somente eles sabiam realmente o que ela representava. Para ambos.

A doença havia lhe proporcionado um estado de lucidez que nunca experimentara antes. Distinguia muito bem todas as coisas. Sem a perspectiva de um futuro, já não mais vivia o momento em razão do que estava por vir. Apenas vivia o momento. Era o instante em si que importava, e não mais o que ele representaria para o dia seguinte.

Acordou bem cedo na primeira manhã após o definitivo anúncio do fim. Pediu para uma enfermeira buscar na cantina no térreo um café da manhã dos campeões. Suco de laranja, torradas com mel, iogurte natural, uma omelete e mamão fresco. Não era política do hospital servir refeições especiais para paciente algum, mas aquela enfermeira o acompanhava desde o diagnóstico. Tornaram-se amigos. Muito amigos. Nessa relação, de um lado, ela cedia às excentricidades dele, e, de outro, ele seguia às suas recomendações e cumpria tudo o que era acertado no tratamento. Agora, além de ser um amigo, ele era um amigo em fase terminal. Não havia motivos para lhe negar um belo desjejum sempre que pedisse e pagasse.

Comeu com a sutil tranquilidade de quem já não se alimentava para matar a fome, e sim para sentir os sabores em sua boca. Decidira ainda naquela manhã que não mais comeria a papa insossa que o hospital lhe servia nas refeições. Iria comer aquilo que tivesse vontade de comer, na quantidade que quisesse comer. Sem restrições. A medicina não salvara a sua vida, e não seria ela a lhe privar de comer uma gordurosa omelete de bacon com presunto e queijo logo cedo. Não mesmo.

No decorrer de toda aquela jornada, sempre manteve viva a esperança de que iria vencer a doença. Nunca deixou de acreditar. Levou a vida com o câncer do mesmo modo com que levara toda ela antes do mal lhe colocar naquela cama de hospital. Era um otimista. Sempre fora um otimista. Com seus olhos míopes, via ao seu redor um mundo cheio de cores e de possibilidades. Era tudo uma questão de acalmar os ânimos, respirar fundo, erguer a cabeça, e seguir em frente.

A cada novo fracasso de um tratamento, dizia para si mesmo e para a equipe médica que isso não era um problema, ao contrário. A conclusão de que um medicamento falhara era uma porta que se abria e lhes deixava seguir outro caminho. Um tratamento que não dava certo era um passo a mais em direção à combinação de remédios e terapias que o iriam curar.

Tudo iria dar certo. Ao fim, tudo iria dar certo.

- Coisas boas passam. Coisas ruins também. Vamos com calma que logo, logo os doutores vão achar a solução -, costumava dizer para a amiga que estivera ao seu lado durante todo o tempo.

Ela, por sua vez, não compartilhava da percepção positiva do amigo. Lera bastante sobre aquele tipo de tumor e conversara ainda mais com os médicos. As perspectivas não eram boas. Em nenhum momento houve uma remissão do câncer. O máximo de notícia boa que receberam foi de que a doença havia se estabilizado. Mas isso durou pouco mais de dois meses. Depois, o tumor continuou a crescer e se espalhar por outros órgãos.

Primeiro o fígado, depois o intestino, depois a bexiga e, por fim, os pulmões. Um após o outro, foram sendo invadidos e corroídos. Agora, ele respirava com dificuldade, uma sonda recolhia sua urina e uma bolsa externa, suas fezes.

Nunca havia pensado na morte. Em nenhum momento. Só racionalizou a respeito da possibilidade de morrer naquele fim de tarde em que os médicos o desenganaram. A amiga se dispôs a passar a noite ali, ao seu lado, mas ele não quis. Agradeceu a boa intenção, mas não quis. Precisava ficar sozinho.

O grande hospital silenciara. Todo o vai e vem do dia findava nas noites e madrugadas. Quando alguém caminhava pelo corredor, era possível escutar de longe o barulho dos passos no piso. Era disso que ele necessitava naquela noite. Silêncio para poder pensar.

Do que se tratara a sua vida? O que fizera dela? Como seria lembrado depois que morresse? Fizera algo de único durante o tempo em que caminhara pela Terra? Quem iria sentir a sua falta?

Quem iria sentir a sua falta?

Não tinha respostas convincentes para dar a si mesmo. A vontade de se iludir com palavras que o fariam acreditar que tudo valera a pena o seduzia. Morreria feliz e satisfeito. Teria tido uma vida plena.

Sozinho, ouvindo apenas seus pensamentos, ele sabia, porém, que não havia motivos para se enganar. Tivera amigos, mas quase todos haviam ficado pelo caminho. Tivera amores, mas nenhum permanecera. Um deles em especial o marcara deveras. Foi bem curto. Do dia em que se conheceram ao dia em que terminaram passaram pouco mais de cinco meses. Ela fora a melhor coisa que acontecera na sua vida. Fora o toque de extraordinário em sua jornada até então comum. Amara mais do que achara ser possível amar. Mas acabou. Levou algum tempo para se recuperar daquilo. Quando estava livre de toda a culpa e de toda a dor, a doença aparecera.

O câncer fez com que ela deixasse de habitar regularmente seus pensamentos. Achava que a tinha esquecido. Não havia espaço para um amor perdido em uma mente que lutava pela vida. Enganara-se, porém. Estava tão viva e bela quando da última vez em que a tinha visto. Os mesmos cabelos negros, os mesmos olhos castanhos, as mesmas mãos miúdas.

A morte próxima a fizera ressurgir em sua cabeça. A certeza do definitivo fim trouxera calma às suas lembranças dos dias em que passaram juntos. Percebera seus erros mais claramente e os dela também. Erraram ambos. Fora um tolo, mas quem não o é quando se apaixona?

Pegou-se imaginando onde ela estaria agora, o que andava fazendo, qual livro estava lendo, qual fora o último filme que vira, o que sonhara na noite passada. Amava-a ainda e sentia-se bem ao pensar que ela estava melhor e feliz sem ele.

Naquela noite, a noite em que o médico rechonchudo de bochechas rosadas lhe disse que não havia mais nada que pudesse ser feito para lhe salvar a vida, ele lembrou dela e percebeu que vivera um amor. O amor de sua vida. Um grande amor. O perdera no meio do caminho, mas quantas pessoas podem morrer com a certeza de que encontraram o amor da vida? Ele tinha. Desde o dia em que recebera o diagnóstico do câncer no estômago, nunca tivera uma noite de sono tão tranquila como aquela.

Nos dias que se passaram até a noite em que deixara de respirar, tratou de fazer seus últimos momentos terem algum significado. Os aproveitaria na rua, procurando divertir-se o máximo possível. Percebeu, porém, que, ao fazer isso, teria apenas alguma alegria passageira. Uma diversão vazia. Não. Isso não daria um sentido aos seus derradeiros instantes na Terra.


Por mais que tentasse desviar sua atenção, fazer suas ideias tomarem um rumo diferente, ele só conseguia pensar em uma coisa. Precisava vê-la mais uma vez, uma única vez, uma última vez.

Sabia, no entanto, que sua condição de saúde o limitava. Sem os equipamentos que o ajudavam a respirar, que faziam o trabalho que seus rins já não conseguiam fazer, que controlavam seus batimentos cardíacos, não teria muito tempo, algumas poucas horas, provavelmente.

Tinha, assim, em uma mão, a manutenção da sua vida e, na outra, a plenitude da sua existência. Cada vez que o ponteiro do grande e empoeirado relógio que ficava sobre a porta do quarto do hospital cruzava o número doze, ele via-se mais próximo do fim. Perdera aquele minuto. Não havia como recuperá-lo. Aquele minuto escapou por entre seus dedos esquálidos. Mal se dera conta disso e outra fração de tempo se fora.

De súbito, ergueu-se da cama, descolou de sua pele pálida os fios que o conectavam aos aparelhos e, demonstrando uma força que nem ele mais imaginara ter, caminhou com passos firmes pelo corredor rumo à porta de saída do hospital.

Estava decidido a não morrer deitado em uma cama estéril em um quarto onde apenas sofrera. Não tivera um bom dia sequer ali. Aquele lugar era sinônimo de sofrimento e dor. Não iria levar aquelas paredes e teto brancos como imagem última gravada em suas retinas.

Existem certos momentos na vida de uma pessoa em que todas as coisas – os astros, os deuses, os espíritos, as coincidências, enfim, toda a sorte possível – conspiram ao seu favor. São poucas as vezes em que isso ocorre. Para algumas pessoas, é um acontecimento único. Pois, para ele, aconteceu naquela madrugada. Um assistente novato pegou no sono e não percebeu quando, na tela do computador à sua frente, uma mensagem pipocava informando que os aparelhos do quarto 221 haviam sido desconectados do paciente. Percorreu os corredores sem encontrar uma viva alma, pois as equipes de enfermagem de plantão tiveram de, às pressas, correr para tentar conter um paciente que estava tendo um surto psicótico e gritava desesperadamente dizendo que extraterrestres estavam chegando para lhe abduzir. Já no saguão, encontrara a portaria vazia, visto que o guarda e a moça da cafeteria estavam dando uns amassos atrás do balcão.

Tudo deu certo. Saiu do hospital pela porta da frente com as vestimentas de paciente sem 
ser interpelado por ninguém. Tomou um ônibus, pulou a catraca e contou com a compreensão de um senhor idoso que lhe cedeu o lugar para dar fim ao constrangimento de ter um homem vestido com roupas de hospital – abertas na parte de trás – em pé no corredor do coletivo.

Durante o caminho, tentou pensar em o que dizer quando chegasse a hora. Fracassou miseravelmente. Estava tão elétrico, tão excitado, tão cheio de adrenalina, que pensar em algo qualquer coisa, não era possível. Respirava rápido, transpirava por lugares que sequer sabiam que transpiravam. Estalava os dedos, roía as unhas, batia os pés, rangia os dentes, engolia em seco.

Cada ponto de ônibus que ficava para trás, era um ponto de ônibus que estava mais perto do seu destino. Precisava se acalmar, mas não queria ficar calmo. Sentia-se vivo. A morte já não lhe ameaçava.

Desembarcou na avenida. Dali até o prédio onde ela morava, teria de caminhar por duas longas quadras. Se alguém lhe dissesse que teria de fazer isso há alguns dias, riria da piada. Mal conseguia se manter em pé para ir ao banheiro no hospital. Não tinha mais forças para manter seu corpo esquelético ereto. No entanto, a certeza de que não tinha mais volta, de que não havia saída, somada a um propósito real, lhe enchera de uma energia que não havia como explicar de onde saíra. Talvez, estivesse dentro dele durante todo o tempo. Talvez, fosse aquela última reserva de força, aquela fagulha que o corpo guarda para lutar pela sobrevivência até o momento final.

Mas ele já não queria mais lutar contra a morte. Fora derrotado naquela disputa e iria sair de cena como um bom perdedor.

Respirava com dificuldade. Dava passos lentos e arrastados. As mãos, trêmulas, pendiam feito galhos secos de uma árvore prestes a tombar.

Fazia calor naquela noite. Sua boca suplicava por um gole de água. Mas ninguém prestava atenção nele. Estava sozinho e tudo bem. Não queria auxílio de ninguém mesmo. Aquela era a sua missão. Tinha de ser assim.

Quando, depois de longos minutos de caminhada trôpega, viu-se em frente ao condomínio de prédios amarelos, deteve-se. Respirou fundo. Uma, duas, três vezes. Mais do que retomar o fôlego, queria entender o que estava para acontecer. Sempre fora assim. Apaixonava-se e envolvia-se até a medula, mas nunca deixava de raciocinar a respeito do que vivia. Brincava com a amiga leal dizendo-se um cientista do amor. Um exagero, sem dúvida. Mas viver sem exageros é navegar permanentemente em águas calmas. E ele adorava as tempestades.

Aproveitou um descuido do porteiro e esgueirou-se silenciosamente por um estreito espaço que ficara aberto no grande portão por onde entravam e saiam veículos. Seguiu até a entrada do bloco onde ficava o apartamento dela. Sentados em cadeiras na rua sorvendo seu mate, alguns moradores trocavam olhares e cochichos sobre aquela estranha figura que, cambaleante, cruzava o pátio, feito um espectro errante.

Entrou no prédio e, apoiando-se nas paredes, se arrastou até o elevador. Quinto andar.

Em frente à porta do apartamento dela, ameaçou tocar a campainha, mas desistiu. Com as costas arqueadas, o peito arfante, e os olhos semicerrados, sentia a vida fugir a cada dolorosa tentativa de respirar. Esforçava-se para puxar o ar que teimava em não inflar seus pulmões. Apoiando uma mão na parede, usou a outra para bater à porta. A tentativa pareceu mais uma carícia – as suas mãos entre os cabelos negros dela. Na segunda tentativa, fez o melhor possível.

TOC

...

TOC

Espera. Espera. Espera

Um barulho seco.

Silêncio.

A porta se abrindo.

Os mesmos olhos castanhos, as mesmas olheiras feito nuvens negras sob eles. As mesmas mãos miúdas levadas à boca após um grito.

Caído aos seus pés, lá estava ele. O que restara dele.

A morte chegara antes de ela enchê-lo de vida como sempre fazia quando estavam juntos.

Não vivera longamente, mas experimentara o intenso sabor doce de um amor verdadeiro.

Fora feliz.

Na vida e na morte.