Uma das lembranças mais presentes que tenho da minha infância é a de ver meu avô, na época já com seus 74, 75 anos de idade, no alto de uma árvore cortando os galhos ou, o que era ainda mais espetacular, fixando, na mesma árvore, a uns 2,5 metros do chão, uma tabela de basquete improvisada, feita somente com arame e com uma tábua, para que os netos se divertissem em uma ensolarada tarde de domingo. Eu era bem pequeno ainda, participava pouco das brincadeiras realizadas pelos meus primos quatro ou cinco anos mais velhos, mas sempre me encantava aquela iniciativa de um homem já idoso, mas com uma vitalidade tremenda. A segunda imagem que eu guardo é a de encontrar no ônibus algumas vezes, por pura coincidência, aquele senhor com setenta e tantos anos vindo do trabalho. Para mim, uma criança com menos de dez anos, era bem estranho ter um avô que trabalhava. Pelo que me lembro, eu era o único da minha turma de amigos que tinha um avô que trabalhava. Me lembro que achava isso super legal.
Outra imagem que ficará para sempre na minha cabeça é a do vô Felipe, já com seus 86 anos, subindo a rua da minha casa para ir visitar meu pai, que estava se recuperando de uma cirurgia. Hoje, eu, com meus 26 anos, dificilmente percorro os cerca de 200 metros dessa subida sem parar, uma vez que seja, para recuperar o fôlego. Eu não me recordo de ter o visto parar uma vez sequer.
Ele não era um homem de muitas palavras. Falava pouco, baixinho. Ele tinha a sabedoria que só os anos trazem e, assim, do seu jeito, dava mais uma lição aos filhos, aos netos, aos bisnetos e a todos que puderam conviver por alguns poucos minutos que seja com ele: aprende-se ouvindo, e não falando.
Nunca vi o vô brabo. Ou melhor, nunca vi ele ter de alterar completamente seu modo usual de se comportar por estar brabo. Nunca vi ele levantar a voz. A sua autoridade caminhava ao lado da sua presença. Ele não precisava gritar, não precisava falar pelos cotovelos, não precisava gesticular. A sua presença impunha um respeito que, assim como a sabedoria, só se conquista com a chegada dos cabelos brancos.
Ele não era aquele modelo de avô que nos acostumamos a imaginar como o “avô perfeito”. Não. Quando os netos iam visitá-lo, ele não os esperava de braços abertos, com doces nas mãos, pegava-os e os colocava no colo para ouvir como havia sido a semana dos pequenos ou para contar lindas histórias. Não, ele não fazia isso. Mas, será que basta fazer isso para ser considerado um avô perfeito? Não, não acho que basta. O avô perfeito é aquele que é um modelo para seus netos. O avô perfeito é aquele que pode contar toda a história da sua vida para seus netos, sem ter de esconder nenhum detalhe ou ter de inventar partes que nunca existiram. O avô perfeito é aquele que dá exemplos, que ensina sem precisar falar, que educa sem precisar dar sermões, que ama sem precisar dar presentes. O avô perfeito é aquele é, sem precisar mostrar que é.
O que falar de um homem que teve dez filhos, 15 netos e dez bisnetos, ou seja, 35 descendentes, sem que nenhum deles tenha seguido um caminho errado na vida? Pode-se falar muita coisa. Pode-se passar horas, dias, semanas, meses, anos falando sem que falte assunto. Eu, porém, só tenho duas palavras a dizer: muito obrigado. Até breve.
5 comentários:
Emocionante. Meus sentimentos.
Digo o mesmo!
Belas palavras Juliano, essas lembranças continuarão vivas em nossos corações. Além do mais, o vô nunca dizia "Adeus" ou "Tchau", mas sempre aquele "Até amanhã!". Abraço.
Luis Felipe Amengual Tatsch
Linda homenagem. Ele sem dúvida a merecia. Abraço, Chiquinho.
Linda homenagem. Ele sem dúvida a merecia. Abraço, Chiquinho.
Postar um comentário