quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Uma aula pós beatle Paul

A segunda-feira pós beatle Paul foi de alegria por ter presenciado O show, muito cansaço e de uma bela aula sobre violência, criminalidade e segurança pública.
Luiz Eduardo Soares é antropólogo, mestre em Antropologia Social e doutor em Ciência Política. Ele ficou bastante conhecido por ser um dos autores dos livros Elite da Tropa, 1 e 2, que deram origem aos dois filmes Tropa de Elite. Soares esteve em Porto Alegre, participando de dois eventos, na Ufrgs e na Esade, e autografando seu livro na Feira.
Conversei com ele e assisti a toda a sua apresentação na Esade. O antropólogo não falou dos livros ou dos filmes, e sim sobre violência e segurança. O cara sabe muito sobre o assunto e tem opiniões bem interessantes.
Fiz uma matéria para o JC que está publicada na desta terça-feira e os caríssimos amigos leitores podem conferir no link lá embaixo. Porém, como o espaço da página do jornal é restrito, sobrou muita coisa legal que eu não poderia descartar. Assim, segue abaixo outros trechos do que o Luiz Eduardo falou que, junto com a matéria do JC, formam um panorama bacana sobre a questão.

Como você analisa o modo como a questão da violência é tratada hoje no Brasil?
Luiz Eduardo Soares
- O tratamento conferido pelas autoridades e pelas lideranças políticas não é compatível com a magnitude e com a gravidade do problema. Nós precisamos muito mais do que ações tópicas e reativas. As autoridades se debruçam sobre o problema na crise. Quando o doente vai para o CTI há alguma ação e a ação que se pode fazer no CTI é muito limitada. Para que se previna o problema nós vamos precisar de uma profunda reforma institucional.


Houve uma maior preocupação em levar políticas sociais para as periferias depois que a violência saiu delas e passou a fazer parte do cotidiano das zonas nobres das cidades? O mesmo vale para as drogas?
Luiz Eduardo Soares -
No Rio há uma confluência entre áreas pobres e nobres e os problemas sempre foram sentidos por todos. Em outras cidades, como São Paulo, onde o cinturão da periferia fica distante e fora do centro urbano que era objeto da atenção midiática, esses problemas não eram visíveis até o início dos anos 1990. E se tornaram mais visíveis e sentidos não porque houve um crescimento, mas, sobretudo, porque os problemas se derramaram sobre as áreas mais nobres da cidade que constituem o foco de interesse e atenção da mídia.

Em curto prazo, a algo que possa ser feito?
Luiz Eduardo Soares
- Não há como inventar soluções rápidas, pois os instrumentos disponíveis são muito precários. Infelizmente as respostas rápidas são as que vem sendo dadas e são insuficientes. Para que seja possível mudar a qualidade do problema e a qualidade da nossa resposta temos pensar em logo prazo. Para que isso ocorra temos de transformar o modelo policial, reestruturar as organizações policiais e todo o quadro das instituições da segurança pública, que é um quadro montado para atender a realidade da Ditadura. Parte do nosso problema tem a ver com a incapacidade do Estado de garantir a legalidade e respeitar a Constituição e a incapacidade de operar as mudanças necessárias para que as policias funcionem de acordo com os mandamentos constitucionais e suprir as exigências de uma sociedade tão complexa.

Sobre a atuação das policias
“A tarefa fundamental não é proteger a vida, pois, se estando em uma guerra, a tarefa fundamental é matar o inimigo.”

Sobre as carências nas investigações
“A taxa de esclarecimento de crimes letais no Rio de Janeiro varia de 1,5% a 7,8%. Isto é, apenas esta porcentagem de inquéritos são aceitos pelo MP. Nos países desenvolvidos, esse percentual varia de 80% a 90%.”

Sobre o foco das ações policiais
“O foco da atuação policial está no flagrante. Isto configura uma seletividade, resultando no processo que chamamos de criminalização da pobreza.”

Sobre a “guerra às drogas”
“A partir dos anos 1990, há uma atenção muito grande à questão da droga. Porém, mais uma vez, está nos jovens pobres e negros.”

Sobre o oportunismo em tempos difíceis
“Na crise só há resposta para a crise. É preciso reconstruir as instituições, mas isto requer tempo.”

Sobre o papel da polícia
“As estruturas organizacionais das nossas polícias são incompatíveis com as nossas necessidades democráticas. As policias brasileiras funcionam sem gestão como máquinas burocráticas. Elas são reativas e não proativas. O policial tem de ser um gestor local da violência, com capacidade de interpretar os acontecimentos, não agindo reativamente.”

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=45866

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