segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A adolescência (ou onde foram parar aqueles quatro anos?)

Estava eu alguns dias atrás tentando dar uma organizada nas minhas gavetas quando encontrei por acaso alguns álbuns de fotografias meus. Olhei todos, página por página e, após repassar muitos anos da minha vida, lembrando com saudade de alguns daqueles instantes registrados e com não tanta saudade outros, percebi uma coisa que nunca havia notado, mas que depois, pensando bem, vi que fazia sentido: não tenho nenhuma foto da minha adolescência, mais especificamente do período entre meus 15 aos 19 anos, naqueles álbuns.
No início me espantei e comecei a procurar fotos do meu tempo de imberbe adolescente para colocar, uma que fosse, em algum daqueles depositórios de imagens. Depois de vasculhar em todos os lugares em que tenho fotos guardadas me espantei mais ainda. Não tenho nenhuma foto minha de quando eu era adolescente. Comecei a pensar, tentando encontrar uma razão para isso. Nem demorei muito para encontrá-la, a razão. O fato é que esse período da minha vida não me deixou nenhuma marca indelével. Nada. Não tenho nenhuma lembrança de algum acontecimento importante que tenha ocorrido nessa época. Nada. Aprofundando-me um pouco mais na questão, percebi outra coisa: de todos os amigos que eu tenho hoje, que na verdade não são tantos assim, (mas, sinto dizer a você que está lendo e que tem muitos amigos, são, indiscutivelmente, os melhores amigos que uma pessoa pode ter, sem dúvida nenhuma melhores que os seus amigos, até porque, para você estar lendo isso, eu devo ser um deles e os meus amigos são beeem melhores do que eu), nenhum eu conheci entre os 14 e os 18 anos. Não fiz amigos, não tive amores nem paixões. Não fiz sequer inimigos.
Até hoje eu sei o sobrenome de quase todos os meus colegas de Ensino Fundamental. Dos meus colegas de Ensino Médio, não sei o nome de nenhum. A impressão que tenho é que eu saltei do último ano do Ensino Fundamental direto para o primeiro ano da faculdade. Há um vácuo nesse período intermediário. E acho que esses anos me fazem falta de vez em quando. Não sei de que forma nem quando nem porque, ma sinto que falta alguma coisa às vezes, algo na formação. Não sei ao certo, mas acho que pode ser isso.
Tentando buscar uma explicação para esse buraco negro que separa meus 15 dos meus 19 anos, achei uma que me pareceu a mais plausível. A minha extremíssima dificuldade de me relacionar com as pessoas. Quando falo extremíssima não uso de um superlativo clichê ou de uma força de expressão. Era extremíssima mesmo. Recordo-me que, nesse ínterim de tempo, quando conversava com alguém, eu não conseguia olhar nos olhos dessa pessoa. Simplesmente não conseguia. Ficava a conversa toda ou olhando para baixo ou buscando algo ao redor para me chamar a atenção. Para quem me conhece hoje e me conheceu depois que eu entrei na faculdade, em 2003, pode parecer algo imaginável, mas eu era o tímido mais tímido do que o tímido mais tímido que vocês conhecem.
Na faculdade eu encontrei uma forma de me relacionar mais e melhor com as pessoas. O humor. Sempre gostei de fazer os outros rirem. Na faculdade, porém, acho que percebi que essa poderia ser uma boa maneira de me comunicar. Não que eu seja um Grouxo Marx, mas acho que tenho talento para fazer as pessoas rirem. Não sei contar piadas, não sou um grande imitador, mas sempre fui bom em aproveitar as deixas, em fazer alguma observação divertida no momento correto, de fazer trejeitos para falar, enfim. Para um colega, sou o “maior humorista vivo” (abraço Ponsito). Um outro amigo sempre me diz que um dia ainda me verá na TV em algum programa relacionado ao humor (abraço Adorno). Sei que os dois são grandes amigos e exageraram, mas, sem falsa modéstia, sei divertir. O fato é que esse artifício fez com que eu mudasse muito. Hoje, a minha timidez se restringe às relações com pessoas que eu não conheço e a algumas situações bem específicas. Com os amigos e colegas de trabalho, às vezes, sou expansivo até demais.
A minha retração entre os 15 e os 19 anos fez com que esse espaço de tempo não ficasse registrado, nem na memória, nem em escritos, nem em fotografias. É como se um prédio de, até agora 26 andares, tivesse um alicerce muito sólido, com os primeiros quatorze andares bem construídos com cada um deles estando repletos de momentos, de lembranças, de histórias, de pessoas. Daí, do décimo quinto ao décimo nono andares, só há espaço vazio. Quatro andares sem nada, nenhum móvel, nenhuma cortina, nenhum bilhete sequer. Alguma poeira no vidro das janelas, talvez. A partir do décimo nono, os andares voltam a estar cheios.
É engraçado, ao mesmo tempo que é triste, ao mesmo tempo que é curioso, ao mesmo tempo que é difícil. Essa fase da vida talvez seja a que mais se faz besteira, mais se faz loucuras, mais se chora, mais se ama, mais se odeia. É uma fase da vida que, geralmente, deixa pouco de conteúdo para o restante que segue. O pouco às vezes, porém, faz muita diferença. Em alguns casos, faz toda a diferença.

Um comentário:

Pati Benvenuti disse...

Engraçado, eu tava pensando coisas parecidas há pouco, enquanto esperava a luz voltar aqui em casa (sim, deu pau em um poste e eu fiquei no escuro por algum tempinho).
Eu tenho uma sensação semelhante, não em relação a algum período tão específico, mas sobre a minha adolescência em geral. Depois dos 15 eu mudei e comecei a ser mais parecida com o que sou agora, mas por volta de 12, 13 anos... Que período horrível da minha vida...Também parecia escondida em mim mesma, por aí. Mas o bom é que todas as coisas ruins e as nulidades passam!!!