Lição nº. 1: não seja amigo das fontes
Qualquer tipo de relacionamento exige compromissos. Amigos têm compromissos uns com os outros. Irmãos têm compromissos entre si. O pai tem compromisso com o filho e o filho com ele. O namorado tem compromisso com a namorada e a esposa com o marido. Inclusive relacionamentos profissionais subentendem compromissos. O subordinado tem compromisso para com o chefe e vice-versa.
Destarte, portanto, meu caro jovem jornalista, não seja amigo de suas fontes. Meu caro jovem jornalista, não seja um “conhecido” das suas fontes. Meu caro jovem jornalista, não tenha nenhum relacionamento com suas fontes. O profissional jornalista só tem dois compromissos: com a verdade e com a sociedade. Poderíamos citar um terceiro compromisso, que é o com a empresa para qual trabalha, mas esse é outro tipo de obrigação.Cada vez que vou a alguma pauta e percebo que a fonte não sabe o meu nome, mesmo eu já a tendo entrevistado diversas vezes, volto para a redação em regozijo. Estou fazendo bem o meu trabalho. Não tenho compromisso algum com fontes. O compromisso de reproduzir em exatidão o que ela me diz não é um compromisso com ela, e sim com a verdade.
Não tenho um relacionamento profissional com as fontes. Simplesmente não tenho relacionamento algum com elas. Não quero ter. Elas não têm obrigações comigo nem eu com elas. Se ela for um agente público, suas obrigações são com a sociedade, não comigo.
Independência é o maior troféu que um jornalista pode ter. Credibilidade pode ser perdida mesmo com você não fazendo nada para que isso ocorra. Um boato mentiroso que corre de boca em boca pode fazer você perder a credibilidade. Nada pode tirar sua independência, se assim você quiser. Um diploma enquadrado na parede não faz de alguém um jornalista. Compromissos com a verdade factual e com a sociedade, independência, ceticismo, indignação com as injustiças e olhar apurado para enxergar aquilo que não está na superfície fazem de você um jornalista.
Esteja preparado para, sendo independente, “sofrer” com as consequências. Você, meu caro jovem jornalista, muito provavelmente deixará de ser convidado para jantares e almoços cortesia. Meu caro jovem jornalista, você com certeza deixará de receber “tocos” bastante atraentes. Talvez você não consiga ou tenha dificuldades em realizar algumas entrevistas. Você não receberá uma ligação lhe avisando antecipadamente quando algo está para ocorrer. Meu caro jovem jornalista, você dificilmente ganhará algum prêmio jornalístico na aldeia. Você não será popular, meu caro jovem jornalista.
Meu caro jovem jornalista, você não terá e não conseguirá muitas coisas que a imensa maioria de seus colegas de profissão terão e conseguirão. Você, meu caro jovem jornalista, porém, fará algo que eles, provavelmente, nunca farão na vida. Você fará Jornalismo, meu caro colega.
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