segunda-feira, 5 de agosto de 2019


JORNADA


Ele olhou nos olhos dela.
E disse.

“Quero ser brisa. Com você. Quero ser brisa com você.”

Juntos, fizeram-se aragem.
Sopraram forte, nas madrugadas.
Correram suaves, pelas manhãs.
Juntos.
Foram vento de primavera.

Raio.
Fúria.
Clarão.
Rugiu o trovão.
Já eram tempestade.

Fortes. Quentes.
Caíram vivos sobre a terra.

Escorreram. Fluíram.
Brotaram verdes em uma tarde de domingo.

“Você se lembra do dia em que nos conhecemos? Consegue lembrar?”, ela perguntou.

Cresceram.
Eram caule. Eram folha. Eram ramo.
Eram flor, ao amanhecer.

Primeiro, vermelha. Depois, amarela. E lilás. E rosa.
E todas as cores.
Juntos.

E viram o cinza lá nas nuvens.
E misturaram-se com os pingos de chuva.
Fizeram-se água.
Percorreram trilhas e canais. Seguiram.

Eram rio.

“Eu sinto”, ele respondeu.

Cruzaram terras distantes.
Semearam vida em campos secos.
Saciaram os que tinham sede.

Renasceram.
Já eram pássaro.

E dominaram os céus.
Riscaram o azul.
Amanhecer nos lagos do Norte.
Anoitecer nos mares do Sul.

Donos do mundo.
Tomaram o tempo para si.
Não havia mais tempo.
Tudo era para sempre.
O instante. O momento. O agora. O antes. O depois.
Tudo era para sempre.

“Eu vou te amar até enquanto eu respirar”, ela falou.

E subiram. Subiram. Subiram. Subiram.
Romperam as barreiras.
Eram estrela.

E brilharam. Brilharam. Brilharam. Brilharam.
Iluminaram a noite escura.
Guiaram os espíritos perdidos.
Velaram o sono dos poetas.

Aproximaram-se.
Uniram-se ainda mais.
Eram luz.

Percorreram as galáxias.
Velozes. Indômitos.
Fizeram do universo o seu quintal.
Alcançaram o infinito.

“Eu vou ser o ar que tu respiras”, ele disse.

Voltaram ao início.
Estavam em casa.
Olhos nos olhos.
Caíram sobre a pele.

Eram lágrima.

Retrato sobre a mesa.
Toque das mãos.
Abraço apertado.

Gota final.


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